terça-feira, 29 de setembro de 2009

Dica da Christina

Dispositivos hi-tech que facilitam a vida de deficientes

O Globo

RIO - Foi realizado semana passada o 2º Congresso Muito Especial de Tecnologia Assistiva e Inclusão Social das Pessoas com Deficiência do Rio. Além das palestras sobre o tema, houve uma feira onde foram apresentados vários produtos e serviços nesse setor. A gente foi lá uma espiadinha e descobriu muita coisa boa. O site oficial do evento é http://congressoassistivario2009.org.br

RECONHECIMENTO DE OBJETOS: Pequenas etiquetas (tags RFID) são aderidas em vários objetos (copo de mate, blusa etc.). Um circuito eletrônico dotado de microfone permite gravar o nome de cada objeto. Depois, passando o sensor próximo à tag, o circuito verbaliza o nome, anteriormente gravado, do objeto em que a etiqueta está grudada.

SCANNER FALANTE: Ponha-se um documento bem impresso nesse scanner, fabricado pela alemã Baum, e ele lerá o texto em voz alta (com um tiquinho só de sotaque). De quebra, o aparelho, chamado Poet Compact, ainda aciona agulhas em um dispositivo acoplado, sobre o qual se passam os dedos, permitindo ler o texto em Braille. (vm2y1.tk).

MYREADER2-600: Fabricado pela canadense HumanWare e comercializado pela brasileira Tecnologia-Assistiva (fik2e.tk), este aparelho escaneia rapidamente um original e permite lê-lo em tamanho maior numa tela LCD, com várias opções de contraste de cores, o que atende a diversas limitações de visão.

A BIGA: Triciclo motorizado, fabricado em MS, que permite ao cadeirante "entrar" nele comodamente com sua cadeira de rodas, subindo suave plano inclinado e prendendo-a mecanicamente à estrutura. Equipada com um motor de Honda Bis e homologada pelo InMetro, a Biga custa R$ 15 mil, preço alto assim devido aos impostos. Na foto, o cadeirante Robson Goulart demonstra o bólido. Contato com o fabricante: >Site

MOUSE OCULAR: A amazonense Maria do Socorro, impossibilitada de manipular o mouse, tem cinco eletrodos colados ao rosto. São sensores que medem impulsos elétricos dos músculos da face associados aos movimentos dos olhos. Com isso, ela controla o cursor na tela do laptop. Para estacionar o cursor, basta uma primeira piscadela. E, para clicar, uma segunda. (hxoq5.tk).

MESA DE RELEVOS TÁTEIS: Desenhos com contornos em alto relevo são posicionados numa mesa com sensores. O desenho na mesa corresponde ao desenho na tela. Toques na mesa são mapeados e acionam mensagens contextualizadas em áudio. Um duplo toque no mesmo ponto recita textos maiores. (u55xn.tk).

Fonte: globo.com

domingo, 20 de setembro de 2009

Dica da Dally

Guimarães Rosa e seu Espelho, fica a dica e o link.

"Eu não me canso dele..."

http://quandonaoestounoceu.blogspot.com/2007/08/guimaraes-rosa-o-espelho.html

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Performance Presente Futuro

Ciclo de Performances e Palestras no Oi Futuro, de 11 a 13 de setembro.

Vale a pena conferir.


terça-feira, 8 de setembro de 2009

Cientista propõe criar "galinhassauro"

Paleontólogo quer despertar genes de dinossauro ainda presentes no DNA de frangos, gerando patas da frente e cauda. Experimento ajudaria a elucidar detalhes da origem do corpo dos vertebrados e seria demonstração "em carne e osso" da evolução

Reinaldo José Lopes escreve para a "Folha de SP":

No fundo de toda galinha existe um dinossauro. Debaixo do bico e das asinhas atrofiadas, no núcleo de cada célula, estão relíquias de DNA que funcionaram pela última vez em tempos jurássicos. Jack Horner quer ir além: dá para trazer ao menos parte do monstro pré-histórico de volta para valer, afirma. Horner, paleontólogo da Universidade do Estado de Montana (EUA), detalha o plano no livro "How to Build a Dinosaur" ("Como Construir um Dinossauro"), publicado neste ano nos Estados Unidos.

Não vai ser preciso obter o genoma dos répteis extintos, porque esse material já está à mão, nos milhões de embriões de galinha gerados mundo afora. Elas, e todas as aves modernas, não passam de uma linhagem de dinossauros bípedes que resistiram à extinção. "Os genes envolvidos na formação de dentes, na construção dos dedos e em outros detalhes da anatomia dos dinossauros ainda existem no genoma das aves, mas foram silenciados", explica a paleontóloga Mary Higby Schweitzer, colaboradora de Horner que trabalha na Universidade do Estado da Carolina do Norte. "É possível identificar esses genes em galinhas e "ligar" alguns dos que foram silenciados? Sim."

Com base nesse raciocínio, Horner propõe duas modificações-chave para fazer um "galinhassauro" caminhar sobre a Terra. Basta transformar os ossos que hoje formam as asas em membros anteriores e fazer com que o bicho volte a ter uma cauda (de ossos e músculos, não de penas) para que o parentesco ancestral entre dinos e aves fique muito mais evidente. A possibilidade é real porque o esqueleto de todos os vertebrados foi "construído" pela evolução com a ajuda de uma longa sucessão de gambiarras. As asas de uma ave, as patas de um dinossauro e as mãos de uma pessoa usam a mesma matéria-prima para desempenhar funções diferentes.

"Dá para ver que algo muito parecido com uma cauda de dinossauro cresce bastante no embrião de galinha, até que ela se detém. O que sobra é um toquinho de cauda, o pigostilo, que não passa de um amontoado de ossos cujo desenvolvimento foi redirecionado", exemplifica Horner no livro. As dificuldades técnicas ainda são muitas, mas o paleontólogo aposta que não se trata mais de uma questão de "se", mas de "quando" o bicho vai se tornar real.

Hans Larsson, paleontólogo da Universidade McGill (Canadá) que também é biólogo molecular, está dando os primeiros passos para realizar o sonho de Horner ao manipular embriões de galinha, e descobriu que fabricar um galináceo com cauda não é brincadeira. Mexer na ponta do órgão embrionário, por exemplo, faz com que o crescimento dele só estacione. Já o emprego de ácido retinoico, substância que pode favorecer o crescimento em certos contextos, ajudou um pouco, mas o resultado foi só um pigostilo maiorzinho.

A dificuldade é esperada no caso da cauda, diz o embriologista brasileiro Igor Schneider, pós-doutorando da Universidade de Chicago. "Existe muito menos informação sobre o desenvolvimento caudal do que a respeito dos membros", afirma. O que se sabe, explica Schneider, é que o rabo depende do ritmo de surgimento dos somitos, estruturas do embrião que são precursoras das vértebras, sejam elas do pescoço ou da cauda. Há estudos sobre os detalhes do processo em serpentes embrionárias, lembra ele. Já a formação dos membros e dos dedos é uma área bem mais ativa de pesquisa.

"Esse tipo de proposta é interessante como um exercício intelectual, mas não a vejo como possibilidade real", diz Schneider. Mesmo considerando a hipótese de que dá para tentar gerar um galinhossauro viável, o pesquisador vê outros problemas na proposta de Horner. A ideia do americano envolve evitar manipulações diretas do DNA, lidando só com a adição de substâncias que controlam o grau de "atividade" dos genes. "Não há como fazer essas mudanças sem alterar ao menos algumas regiões reguladoras do DNA", avalia Schneider. Essas parecem ser "áreas mestras" do genoma, que coordenam o papel de muitos genes no desenvolvimento.

O que a ciência tem a ganhar com a gênese do frango jurássico? Em primeiro lugar, argumenta Jack Horner, seria o golpe de relações públicas definitivo em favor da evolução. Se for possível convencer o público de que o bicho não é mera aberração genética, mas o fruto de um potencial presente nas células de qualquer galináceo, o elo evolutivo entre dinos e aves, e o existente entre os demais seres vivos, seria ilustrado de uma forma que nenhum museu conseguiria igualar. Horner diz que seu sonho é participar do programa de TV de Oprah Winfrey levando o bicho na coleira.

O paleontólogo Max Langer, da USP de Ribeirão Preto, diz que não se pode restringir o potencial científico da ideia ao estudo dos dinossauros. "O projeto pode ajudar a esclarecer a influência da genética no desenvolvimento, e a do desenvolvimento na forma final dos seres vivos. São perguntas mais amplas e importantes." Langer, no entanto, não se identifica com outra motivação de Horner: a de ver seu objeto de estudo enfim "ressuscitar". "É óbvio que seria divertido ver um bicho desses, mas eu não ficaria comovido. Além de ter algo de show de horrores, seria como um filme mesmo. Ele seria tão dinossauro quanto o T. rex do Spielberg. Ou seja, não seria!"

Langer argumenta que, na verdade, a criatura seria um olhar para o futuro, e não para o passado. Por isso mesmo pareceria menos atraente para muitos especialistas em dinos. "Eu sou um paleontólogo, eu olho para o passado. Minha identificação é mais com a história do que com qualquer outro ramo da biologia", diz ele. "Seguindo a analogia histórica, os galinhossauros seriam como aqueles experimentos que tentam criar regimes totalitários em pequenos grupos sociais parcialmente isolados. Isso, claro, pode gerar dados para entender como surgiram os governos fascistas. Mas eu quero mesmo é saber quantas pessoas morreram na Guerra Civil Espanhola, e isso a gente só descobre mexendo nos arquivos, no nosso caso, os enterrados há milhões de anos."

(Folha de SP, 30/8)

sábado, 5 de setembro de 2009

Cientista mapeia DNA de pelos dos cães


Combinação de mutações em apenas três genes explica grande parte das diferenças de pelagem entre raças domésticas. Estudo revela mecanismo genético de características complexas e pode ajudar em pesquisas sobre doenças humanas, dizem cientistas

Ricardo Bonalume Neto escreve para a "Folha de SP":

O pelo curto do buldogue, o pelo encaracolado do poodle e a pelagem comprida do cocker spaniel podem ser bem diferentes, mas cientistas nos EUA e França descobriram agora que a combinação de apenas três genes é responsável pela variação. Não se trata de mera curiosidade científica. Trabalhos como este dão pistas para o conhecimento de doenças hereditárias no cão e no homem. Foi um trabalho em larga escala. A equipe de vinte pesquisadores coordenados por Elaine Ostrander, do Instituto Nacional de Pesquisa do Genoma Humano, de Bethesda, EUA, recolheu amostras de DNA de mais de mil cães de 80 raças e examinou milhares de sequências do material genético. "Este tipo de estudo não consegue dar informações práticas para donos de cães sobre uma doença, mas ele ajuda muito a avançar o conhecimento científico sobre como estudar características complexas, uma categoria na qual as doenças geralmente se enquadram", disse Ostrander à Folha.

"Nós sabemos que seres humanos e cães têm um grande número de doenças em comum, como epilepsia, doença cardíaca, cegueira, surdez, artrite, lúpus etc. E sabemos que os mesmos genes subjacentes estão envolvidos nelas", afirma a pesquisadora. "Por isso, entender como lidar com o problema de características complexas no sistema canino com certeza vai nos dar lições que podemos aplicar à doença."

Letras trocadas - O objetivo era fazer um estudo de associação envolvendo todo o genoma do cão, cujo sequenciamento foi publicado em 2005 (isto é, o ordenamento das "letras", as bases químicas que compõem o material genético). O novo estudo está disponível no site do periódico científico americano "Science". Nesse tipo de estudo, os cientistas fazem uma varredura da ordem das letras em busca de variações entre os genomas dos indivíduos, em geral de apenas uma letra trocada. A troca de uma letra pode ou não ser significativa para a função do gene, assim como acontece com as palavras. Ao mudar a palavra "contrate" para "contrata", o significado continua similar. Trocar "refina" por "retina", porém, muda muito o sentido.

A grande variedade de pelagens entre as diferentes raças e também em uma mesma raça permitiu um estudo capaz de associar os locais no genoma com letras trocadas com a característica exibida pelo cão -o seu "fenótipo", como os biólogos costumam dizer. A raça que primeiro deu pistas importantes foi o dach-shund, o pequeno cão "salsicha" que no Brasil costuma ser erradamente chamado de "bassê". A equipe vasculhou o DNA de 96 cães da raça de três variedades de dachshund - pelo liso, pelo duro, e pelo duro com "acessórios" (bigode e sobrancelha peluda). Justamente por serem da mesma raça ficou mais fácil achar as diferenças. O segundo conjunto de dados usou o genoma de 76 cães d'água portugueses, a mesma raça de Bo, a cadela presenteada pelo presidente dos EUA, Barack Obama, a suas filhas. E o terceiro conjunto de dados foi obtido com a busca dos genes da pelagem em 903 cães de 80 raças variadas.

Populações fechadas - "O aspecto único do modelo do cão é o grande número de raças, isolados genéticos, isto é, populações fechadas que não são permitidas cruzarem entre si. Cada uma dessas raças dá um retrato do genoma do cão, contendo diferentes combinações de genes que produzem animais saudáveis e reproduzindo", disse à Folha outro autor do estudo, Karl Gordon Lark, da Universidade de Utah. Lark tem uma fêmea, Mopsa (da mesma raça de Bo, a "primeira cachorra" americana), que também doou sua amostra de DNA para o estudo sobre a variação de pelagem. "Cada combinação resulta em um diferente fenótipo selecionado para tamanho, morfologia [forma] e comportamento", explica Lark. "Em um artigo no periódico "Genetics" nós mostramos como essas diferenças podem ser usadas para identificar locais genéticos para comportamento e longevidade, assim como morfologia."

Estudo ajuda a explicar longevidade - O trabalho de Lark e Ostrander sobre pelos pode trazer também uma explicação sobre por que cães grandes geralmente vivem menos que os pequenos. Segundo os cientistas, há uma semelhança entre os mecanismos que determinam pelo e características ligadas à longevidade. Os genes que explicam a maior parte da diversidade na pelagem canina são três, conforme mostra seu trabalho. O FGF5 determina se o pelo é curto ou comprido, o RSPO2 indica presença de "acessórios", e o KRT71 dá o grau de "encaracolamento". Para todos há uma razão. O KRT71, por exemplo, atua na produção de uma proteína dos pelos, a queratina 71. A combinação dos três genes produz sete tipos básicos de pelagem.

O pelo curto de um boxer vem de ele ter versões ancestrais dos três genes. O pelo longo com bigode e sobrancelha peluda de um Lhasa Apso surge de seus FGF5 e RSPO2 mutantes, e do KRT71 na forma selvagem, ancestral. O pelo longo e não encaracolado do cocker spaniel surge do FGF5 mutante e dos outros dois ancestrais. Já um cão d'água português ou um poodle têm as três formas dos genes mutantes. Acontece, porém, que o isolamento genético entre as raças acabou criando diferenças que vão além da aparência. "Ao desenvolver uma raça, os criadores selecionam certos genes, regulando tamanho ou pelagem, que também regulam muitas outras coisas no animal" afirma Lark. São genes básicos. O gene ligado ao tamanho do pelo, IGF1, também está envolvido no metabolismo de insulina - e da longevidade - em muitos organismos. Os genes FGF5 e RSPO2 também regulam processos celulares que afetam a fisiologia e o crescimento do indivíduo. Com isso, os cientistas ganham novas informações para estudar como importantes genes regulatórios interagem com outros para mudar o "funcionamento" do animal, afetando sua saúde e sua longevidade.

(Folha de SP, 31/8)

sexta-feira, 4 de setembro de 2009

Reprogramadas, células de pele fabricam insulina



Feito foi obtido por grupo americano usando as chamadas células iPS, derivadas de diabéticos

Cientistas americanos conseguiram pela primeira vez reprogramar células da pele de pacientes com diabetes tipo 1 e convencê-las a produzir insulina. O experimento põe no horizonte a possibilidade de terapia futura contra a doença. Mas o que mais interessa aos pesquisadores é que agora eles poderão, finalmente, entender como o diabetes se origina.

O feito foi obtido por uma equipe liderada por Douglas Melton, do Instituto de Células-Tronco de Harvard, EUA. O grupo usou as chamadas células iPS, as células-tronco "éticas", cuja produção não demanda a destruição de embriões humanos. Melton e seus colegas extraíram células da pele de dois diabéticos e converteram-nas em células-tronco com a ajuda de três genes. As células resultantes, por sua vez, foram convertidas em células beta, do pâncreas. Estas células, que secretam insulina, são atacadas e destruídas pelo sistema imunológico dos portadores do diabetes tipo 1. Ninguém sabe como nem por que isso acontece. O diabetes 1, também chamado de diabetes juvenil, é uma doença na qual múltiplos genes estão envolvidos, e as condições ambientais que disparam a doença num portador desses genes não são conhecidas.

"As células iPS são o melhor ponto de partida, porque elas são derivadas de células do paciente e, portanto, capturam o genótipo da doença numa célula-tronco", escreveram os pesquisadores. Um artigo que apresenta os resultados do experimento foi publicado hoje no periódico "PNAS". A eficiência da conversão de células iPS em células beta foi baixa, razão pela qual os pesquisadores ainda não estão muito otimistas quanto ao uso dessa técnica em terapia num futuro próximo. No entanto, Melton afirma que o estudo é uma prova de princípio importante, porque agora poderá ser possível reproduzir, em laboratório, as condições nas quais o sistema imunológico do portador de diabetes juvenil começa a atacar as células de insulina. Como o genoma "doente" está presente em todas as células do portador de diabetes tipo 1, os cientistas planejam derivar outros tipos celulares -como células do sistema de defesa do corpo- e fazê-las interagir com as células beta.

Questão pessoal - Sabendo em que condições ocorre o ataque e o que o provoca, os pesquisadores poderão, no futuro, usar as células iPS derivadas dos próprios pacientes para repovoar o pâncreas de diabéticos com células beta sem risco de rejeição. Também poderão desenvolver maneiras de evitar o ataque imunológico, curando a doença. Para Douglas Melton, mais do que uma busca científica, trata-se de uma questão pessoal. O cientista tem dois filhos diabéticos, Sam e Emma, e passou a estudar células-tronco, desafiando as restrições impostas pelo governo Bush, para buscar a cura da doença.

(Fonte: Folha de SP, 1/9)

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

Grupo rastreia madeira ilegal com DNA



Projeto alemão, com colaboração do Brasil, quer montar "RG" genético da madeira de lei; testes começam com mogno. Trocas de letras no genoma servem para distinguir populações de árvores, e até a química da madeira ajuda a denunciar origem

Reinaldo José Lopes escreve para a "Folha de SP":

Quem vende madeira ilegal mundo afora terá de se haver com a biologia molecular. Pesquisadores alemães, em colaboração com brasileiros e cientistas de outros países, estão montando uma espécie de RG genético da madeira de lei. A ideia é apontar com precisão a origem de toras e até móveis, revelando se a matéria-prima foi obtida de forma lícita. O projeto foi apresentado por Jutta Buschbom, do Instituto de Genética Florestal da Alemanha, durante o 55º Congresso Brasileiro de Genética, que acontece nesta semana em Águas de Lindoia (SP). Uma das primeiras espécies na mira é o mogno (Swietenia macrophylla), árvore amazônica rara que tem comércio controlado.

Buschbom reconhece que seria loucura querer aplicar o conceito para todas as espécies de árvores exploradas hoje, ainda mais levando em conta a grande diversidade de plantas das florestas tropicais. "Ao menos no começo, vamos nos concentrar em algumas espécies muito visadas e de grande valor comercial", diz ela, citando também a teca (Tectona grandis), do Sudeste Asiático, além de espécies da África Central e das grandes florestas de Europa e Ásia.

Dados apresentados por Buschbom indicam que cerca de metade da madeira do mundo provém de derrubadas clandestinas, gerando um prejuízo anual em torno de R$ 500 bilhões -e um lucro comparável para os madeireiros. O objetivo é conseguir uma "resolução" refinada das populações de cada espécie de árvore, de maneira que seja possível diferenciar entre o mogno obtido por manejo e a madeira oriunda, digamos, de um desmatamento ilegal a poucas dezenas de quilômetros dali. A experiência obtida até o momento com a espécie amazônica mostra que isso é possível, diz Alexandre Magno Sebbenn, pesquisador do Instituto Florestal de São Paulo e parceiro da iniciativa alemã.

"Dá para olhar essa escala populacional fina, porque, no caso do mogno, a semente de uma árvore tende a germinar a uns 500 m ou 1.000 m da planta-mãe. Então isso cria populações distintas, cujo parentesco vai diminuindo com a distância", explica Sebenn. As principais técnicas genéticas testadas pelos pesquisadores envolvem "assinaturas" de DNA típicas de uma dada espécie ou população. Um tipo de assinatura são os chamados microssatélites -uma "gagueira" do DNA, na qual as "letras" químicas que compõem essa molécula se repetem (GAAAG A-GAAAGA-GAAAGA, e assim vai). Outra assinatura é o SNP, em que ocorre a troca de uma só dessas letrinhas por outra -um C por um T, digamos.

Mas, para os casos em que esses detalhes do DNA não forem suficientes para identificar a origem da madeira, já há um plano B. Bastaria ver a presença de variantes de certos elementos químicos no material -a proporção de dois tipos diferentes de carbono ou de hidrogênio, digamos. Essa proporção é exclusiva do ambiente onde a planta cresceu, dando, portanto, boas pistas sobre sua origem. "O ideal vai ser a combinação dessas abordagens", diz Buschbom. Aplicando técnicas utilizadas para obter DNA de fósseis, até a madeira processada em fábricas tem chance de ganhar "certidão de nascimento".

(Fonte: Folha de SP, 01/09)