domingo, 29 de novembro de 2009

As Mulheres-Fruta e seus corpos - Por Vladimir Pontes

As Mulheres-Fruta e seus corpos


Há algum tempo surgiu um fenômeno midiático interessante: as “Mulheres-Fruta”. A primeira representante do fenômeno foi Andressa Soares, chamada de Mulher-Melancia. A dançarina de 21 anos tornou-se celebre no mundo do funk carioca em 2008, e logo recebeu destaque na grande mídia. Andressa ganhou projeção nacional, aparecendo em diversos programas televisivos, concedendo entrevistas à jornais de grande circulação e sendo capa de revistas masculinas.
Todo sucesso de Andressa estimulou o surgimento de outras mulheres-fruta, como: Ellen Cardoso, a Mulher-Moranguinho, que substituiu Andressa no seu antigo grupo de dança; Gracie Kelly, a Mulher-Maçã; Renata Frisson, a Mulher-Melão; Daiane Cristina, a Mulher-Jaca, companheira de dança de Andressa; e até a Mulher-Banana, um dançarino homossexual que também recebeu o “título de fruta”.


A mudança de parâmetros

Propagandas e shows de TV mostram mulheres magras e esbeltas como o perfil ideal de boa forma. Garotas se influenciam por modelos e atrizes célebres e, em certos casos, acabam sofrendo de problemas alimentares como anorexia e bulimia para conseguirem alcançar o tão almejado corpo ideal. Dicas de dietas, cirurgias, rotina de exercícios, remédios e outros programas de emagrecimento são divulgados e encontrados ao monte nos diversos veículos de comunicação.
Já as Mulheres-Fruta compartilham uma característica que não se enquadra exatamente nesse padrão de beleza: suas “medidas avantajadas”, ou seja, bumbum grande, seios fartos, coxas grossas etc se diferenciam daqueles corpos que desfilam pelas grandes grifes. Apesar desse fenômeno ainda representar o culto ao corpo – fato típico de nossa sociedade do espetáculo –, essas moças estão longe do padrão de beleza ‘vendido’ pela mídia global em geral.
No Brasil, o bumbum da mulher já chegou a receber título de “paixão nacional” e por isso o fenômeno das Mulheres-Fruta pode fazer mais sentido em terras tupiniquins do que na Europa, por exemplo, onde a indústria da moda cultiva mais a idéia de modelos magérrimas. Apesar disso, as Mulheres-Fruta recebem muitas críticas de parte da opinião pública e até de personalidades famosas que as chamam de “gordas”, evidenciando que, mesmo no Brasil, as “medidas avantajadas” representam um padrão distante do corpo ideal.


A relação com o erotismo e à dança

As Mulheres-Fruta fascinam desde crianças a pessoas mais velhas, não necessariamente atingindo um grupo mais especifico. É um fenômeno bem popular, mas que tem suas ligações com o erotismo. Foi em grupos de funk carioca que elas ganharam sua projeção e isso explica muito dessa conotação sexual. Desde o Miami Bass – gênero americano que deu origem ao funk carioca –, o ritmo tem ligações com a sensualidade. Nos anos 80, MC Hammer, rapper americano de sucesso, cantava ‘I Like Big Butts’ e na “versão brasileira” não foi muito diferente. Até hoje, grande parte do funk carioca tem muito teor sexual e sensual, tanto nas letras como nas danças. Os MCs cantam sobre suas experiências eróticas, enquanto os dançarinos rebolam e simulam atos sexuais ritmados.
Talvez, o corpo das Mulheres-Fruta tenha uma ligação direta com esse teor sexual do funk. Já que seu “volume” proporciona uma experiência estética que remete muito ao erotismo. A dança tem profunda ligação com o corpo, que por sua vez também tem profunda conexão com a idéia do sexo. Não é de se estranhar que as Mulheres-Fruta sejam dançarinas e, mas especificamente, de um ritmo tão “erotizado” como o funk carioca.

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