quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

America’s Next Plus-Size Full-Figured Model - Por Felipe Lopes



O mundo das modelos apresenta padrões de corpos muitas vezes destoantes da grande maioria de pessoas que consomem a moda. Existe um ideal que combina altura mínima, peso e idade máxima, além da beleza. As modelos femininas possuem corpos ainda mais extremos na representação de magreza. Entretanto, há outro conceito de modelos cada vez mais aceito: o de Plus-Size Models, modelos acima do peso, mas ainda assim dentro de padrões. A altura mínima é ainda maior que o das modelos magras, há uma necessidade maior de uma boa estrutura óssea e uma pele perfeita.
As modelos plus-sized, apesar de presentes em diversos lugares do mundo, ganharam maior destaque nos Estados Unidos. O fato de o país ser campeão em pessoas acima do peso contribui para essa reestruturação de nicho nos moldes de corpos. Vale ressaltar que este padrão de modelos não muda o conceito de “modelo”, mas é apenas uma segmentação de moda que não exclui o padrão que ainda é predominante de modelos magérrimas. Isso torna interessante a representação de ambos os tipos de modelo na mídia, incluindo nos mesmos veículos de comunicação. O programa “America’s Next Top Model”, reality show onde aspirantes a modelo buscam um contrato com uma agência e ser capa de uma revista.
O programa, apresentado pela top model Tyra Banks, sempre reforça a intenção de quebrar padrões de moda; a própria Tyra sofreu preconceito por ser negra e não estar enquadrada neste padrão. Com isso, vemos no programa modelos de diferentes biótipos disputando o título de próxima top model americana. E durante 10 temporadas, modelos magras e plus size foram consideradas com o mesmo potencial. Mesmo potencial que não pode ser constatado no número de participantes. São 13 participantes por temporada. E apenas em 13 temporadas, foram menos de 10 modelos consideradas plus size competindo, geralmente uma por temporada.
E aí houve uma nova imposição de padrões. A melhor modelo acima do peso, Toccara Jones, ficou em sétimo lugar na temporada que competiu. O cenário de reality show, onde a ideia de diversidade prepondera sobre os julgamentos reais, contribui para sua eliminação. Toccara participou da temporada em que duas modelos negras chegaram à final. Consequentemente sua cor da pele a prejudicou, uma vez que se observa um padrão de etnias diferentes na fase final do programa, contando com modelos negras, loiras, morenas e ruivas. Nunca se observa tantas meninas do mesmo estilo na final e, no julgamento, o peso de Toccara foi fundamental para que ela fosse preterida em relação a outras competidoras. Entretanto, o programa abriu portas para a modelo que entrou no mercado e foi a primeira plus-size negra a posar para a revista Vogue Italiana.

O programa apresentou ainda outra questão em relação às modelos acima do peso: o padrão acima do peso. Padrão este que é abaixo do que se observa na realidade. Meninas plus-size não são obesas, ou sequer gordas. Elas apenas não se enquadram no padrão 0 das modelos convencionais. E elas possuem uma faixa de peso a seguir. Não pode ganhar peso livremente e não pode ficar no caminho entre modelo magra e plus-sized. Sarah, participante da nona temporada de ANTM, foi eliminada justamente por ter emagrecido no programa. Isso denota uma visão contraditória, uma vez que as modelos que lutam contra padrões que levam a tantos distúrbios alimentares, também se submetem ao controle e a um regime de disciplina para se enquadrar em outro padrão pré-estabelecido de corpo. Não é a liberdade, é apenas outro molde que deve ser mantido. É um “desvio de peso aceitável”.

Esse controle de peso se torna mais evidente quando encontramos a única vencedora plus-size de ANTM. Primeiramente, o termo plus-size foi mudado para “full-figured”, um eufemismo que tira a ideia de “tamanho extra” para o de “figura completa”. Essa mudança morfológica interfere na percepção do público. O conceito anterior não se associa ao ideal de sucesso. A top model é um padrão confrontado com o de plus size, por isso um sinônimo que atenua. E na escolha da top model vencedora, vemos padrões reforçados de beleza. A campeã Whitney Tompson é branca, loira, cabelos lisos e compridos, padrão considerado belo no senso comum. Mais que isso, Whitney está no limite mínimo do “full-figured”, após ter engordado para participar do programa.

A padronização para outro estilo de modelo demonstra mais uma segmentação que busca identidade com um público que não se afina com as modelos magérrimas. Esse mercado se firma cada vez mais com agências exclusivas a este tipo de modelos. Entretanto não é realidade em todas as partes do mundo; o Brasil, por exemplo, não aceita modelos acima do peso seja nos reality shows, seja em agências. Mais que isso, as diferenças no mundo das modelos são pontuais. Deve haver um equilíbrio entre o que destoa dos moldes no mundo fashion e outros atributos. O próprio America’s Next Top Model mostra diferenças que são aceitáveis dentro de um limite. Há, nisto, uma ideia de projeção do público naquelas competidoras, o que aumenta o sucesso do programa. O último ciclo, inclusive foi composto por outro padrão diferente: modelos abaixo de 1.70m. E lá não há nenhuma menina acima do peso ou com outra particularidade; a altura já é a diferença.
O que podemos analisar desta representação é, também, um ato conservador. O que poderia ser um incentivo a aceitação das diferenças, reforça o ideal de beleza, adaptado a diferenças inerentes a corpos que não se enquadram em padrões. E, assim, meninas acima do peso apreciam esse apelo midiático e consomem as tecnologias que podem torná-las bonitas e transforma-las em “figuras completas”.

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