domingo, 6 de dezembro de 2009

MODIFICAÇÕES EXTREMAS NO CORPO: VICIADOS EM TATUAGENS - Por Ana Terra Andrade



Apesar de podermos encontrar padrões sobre a idéia de corpo perfeito segundo contextos históricos e sociais, não podemos dizer que é um conceito absoluto. Para os viciados em tatuagem, o liso e uniforme corpo da Barbie não tem nenhuma graça! Na verdade tatuar o corpo não é uma técnica recente, há 3500 anos, o ser humano já usava o corpo para expressar sua identidade pessoal ou coletiva. Sendo inventada inventada várias vezes em espaço e tempo diferentes. Os primitivos usavam a tatuagem para marcar as fases da vida, sua posição e desejos dentro da sociedade, para pedir proteção, e até para identificar prisioneiros.

Na modernidade, a tatuagem ganhou mais alguns significados e, após longo período sendo considerada como marginal, entrou na moda. Sempre carregada de significados, ela perpetua na pele algo especial. Alguns a fazem para embelezar o corpo, outros como pagamento de promessas, como demonstração de afeto, fé ou revolta, enfim, são inúmeros os motivos, mas o fato é que é um processo doloroso que exige certa determinação. Na realidade pode-se dizer que funciona como uma marca identitária, que pode tanto diferenciar o indivíduo de outros indivíduos ou que, ao contrário, pode associá-lo a um grupo específico.

Um fato importante para a transição do status da tatuagem foi quando artistas da música e do cinema ( além dos marinheiros, que foram os grandes divulgadores da tatuagem pelo mundo) começaram a expor seus corpos tatuados. Não é à toa que associamos ainda hoje as tatuagens principalmente aos artista. Deixando, em partes, de simbolizar algo relacionado à marginalidade, apesar de haver ainda muito preconceito e associação de estereótipos quando ao estilo de vida dos que possuem tatuagens.

Com a tecnologia, os traços tornaram-se mais finos e elaborados, coloridos ou com diferentes relevos, passando mesmo a ser chamada de arte. Quem introduziu as novas técnicas de tatuagem no Brasil foi o dinamarquês Lucky, apelidado de Mr. Tattoo, em 1959, e foi o único durante muito tempo, fato que comprova a difícil aceitação da tatuagem no Brasil.

Nas últimas décadas, milhares de estúdios de tatuagens foram instalados no Brasil e, além de além dos novos clientes, percebe-se uma grande freqüência de pessoas que querem aumentar a quantidade de tatuagens em seus corpos.

A veiculação de programas como o “Miami Ink” no canal People and Arts (onde tatuadores mostram seus trabalhos e contam a história das pessoas a serem tatuadas)também contribuiu para a “moda” de se fazer tatuagens.


Fala-se em um vício de fazer tatuagens, pois quem faz a primeira geralmente sente vontade de fazer outras, talvez por ter passado pelo medo do desconhecido e saber que a dor é suportável, o que se percebe é uma grande quantidade de pessoas que não consegue mais parar de fazer tatuagem. Há quem diga que antes de terminar de fazer uma já está pensando na outra.

Normalmente os vícios são considerados pelas pessoas como motivos de prazer, alegria e desejo. É o caso da “bloggeira” apelidade de Butterfly:

“Ai esse vicio que tomou conta de mim, do meu corpo, da minha alma…Bem dito assim até parece que sou maluca, mas acreditem, quem as tem sabe a que me refiro! É um vicio que toma conta de nós e raramente quem é um verdadeiro apreciador quando faz uma não consegue ficar só por aí, eu própria quando fiz a minha primeira quando tinha 20 anos disse “Ah só vou fazer uma”, mas não resisti e dois anos depois fiz mais uma na perna, passados mais dois anos fiz a terceira no ombro em que disse novamente “ok esta é a ultima. Vai ser difícil conseguir aguentar porque eu adoro sentir aquele barulho da agulha picando, aquela dor do momento...”

O curioso caso de corpo modificado extremamente pela tatuagens o do neo-zelandês Lucky Diamond Rich, que entrou para o livro dos recordes como o homem mais tatuado do mundo. Dizendo ter apenas uma tatuagem que cobre todo o seu corpo, inclusive no interior da sua boca. Seu corpo demorou cerca de 1000 horas para chegar a formatação atual. Além das tatuagens, Lucky possui orelhas alargadas, dentes de metal e piercings em algumas áreas. Sua ideologia não está clara, seria esse ato uma revolta contra os padrões de beleza estabelecidos ou simples vontade de ser diferente? Ele parece apenas querer mostrar que não há limites para o domínio do próprio corpo, que pode ser modificado, tingido, esticado, enburacado.


No entanto, estudos comprovam que 50 % das pessoas que fazem uma tatuagem desejam removê-la em algum momento da vida, devido á vários fatores como: preconceito, barreiras na procura de emprego, enfim, é ainda difíl a recepção por parte da sociedade. Além disso, com o passar do tempo, as experiências mudam e em alguns casos, o significado das tatuagens pode mudar e até se tornar indesejável.

Com o advento das novas tecnologias voltadas para a remoção das tatuagens com laiser criou-se uma nova alternativa para aqueles que se arrependeram. Como é o caso da jovem Kimberley Vlaeminck, que resolveu fazer 56 estrelas no rosto e, com medo do pai, inventou que seria o tatuador que tinha a drogado para fazer 56 estrelas ao invés de 3. A jovem queria dinheiro para retirar as estrelas do rosto, mas depois admitiu a farsa.


O que se criou é na verdade uma falsa idéia de que as tatuagens agora são facilmente removidas e que a solução é fácil se um erro for cometido, diminuindo assim os riscos. No entanto, o tratamento à laiser não é mágico: difícil, demorado, caro e muitas vezes não é possível remover completamente a tatuagem, ou a pele pode ficar mais clara do que a pele ao redor, como uma mancha esbranquiçada.Pode acontecer também a hiperpigmentação, deixando a pele mais escura do que o resto do corpo. Em alguns casos ainda, pode ser utilizado um laser ablativo (que destrói as camadas superficiais da pele) antes do laiser convencional, para expor melhor os pigmentos.

Mesmo assim a idéia de não ser mais definitivo induz as pessoas a se preocuparem menos com as conseqüências da modificação do próprio corpo, tanto para elas mesmo quanto em relação a própria sociedade. Como o que ocorre com as cirurgias plásticas, como a lipoaspiração, por exemplo, mas de maneira menos abrasiva no sentido fisiológico, as tatuagens ganharam um status onde o sacrifício da dor inicial é encoberto pelo resultado final, compensado pela beleza estética.

É curioso notar que certas atitudes em relação à mudanças no corpo são aceitas de acordo com cada sociedade mas que na maioria o que prevalece é o resultado final, e não o processo. Assim como as propagandas para se vender um tratamento estético cirúrgico não possuem detalhes de como se dá o passo-a-passo e focam no resultado final, as tatuagens são geralmente mostradas em fotos, ofuscando assim as agulhas e o sangue. Bem como o risco de carregar algo que não gostou para a vida toda em seu corpo fica ofuscado pela ilusão do laiser removedor.

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