quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

"Sou Mais Eu" - Por Nayara Matos



A revista “Sou Mais EU” é uma revista que encontramos no mercado voltada para o público feminino, com dicas de dietas mirabolantes para perder vários quilos em dois dias e sem sofrer, dicas de afrodisíacos para apimentar sua relação, estampadas sempre por uma mulher magra e muito bem produzida na capa.
Esta revista em particular se dá de uma forma diferente, a revista não estampa mais uma celebridade exibindo sua forma física magérrima após dar a luza ao seu terceiro filho, mas a revista estampa “ mulheres” comuns que, depois de conseguir perder aqueles quilos e sempre claro, sem sacrifício nenhum até porque o lugar de status (capa da revista) não é reconhecido por esforço, força de vontade e resistência mas sim simplesmente por estar agora linda magra e por isso ser reconhecida.

Além do incentivo a revista é feita pelas leitoras, cada história tem um preço para ser publicada, e geralmente o que estampa a capa e ganha consequentemente R$500,00 é a que ficou magra e linda sem sacrifício.
Lúcia cuja reportagem você encontra http://mdemulher.abril.com.br/dieta/reportagem/dietas/perdi-11-kg-sucos-naturais-po-514727.shtml
não é mais mal humorada e tem um corpo esbelto, e suas filhas podem ter orgulho da mãe, assim como relata a própria Lúcia na reportagem: “Já são sete anos com os 65 quilos. Deixei aquela Lúcia mal-humorada pra trás e me tornei um exemplo para as minhas filhas. Hoje elas já são quase adolescentes e têm orgulho da mãe” e diz ainda “ Minha segunda filha já estava com dois anos e eu ainda não tinha perdido os 11 quilos que ganhei em sua gravidez, eu passava para minhas meninas o exemplo de uma mãe incapaz de emagrecer”

Observamos uma reestruturação dos mecanismos de poder, um poder constante de estimulação e imagem, se enquanto a moral no séc XIXdefendia a necessidade do sacrifício para o bem estar além de que estava pautada em outras estruturas como família, religião, trabalho, hoje vimos através da influência da mídia está moral ocupando um outro patamar, a nova moral do corpo não passa mais pela punição e sim pela estimulação.
O nome da revista neste caso “Sou mais Eu” mostra bem este novo patamar dos valores, porém este “Eu” só faz sentido se for mostrado e invejado. os valores não se baseiam de tal forma mais no coletivo e sim em um individualismo crescente em uma prática hedonista, uma rejeição ao sacrifício.
A busca pela qualidade de vida, pela beleza, pelo corpo enquadrado no padrão da mídia e a necessidade de se mostrar é o que norteia o cuidado de si e não mais no caso das “virtudes” morais . Lúcia, a moça da reportagem não é vencedora pois conseguiu controlar sua ansiedade ou vencer sua luta interior, mas sim por ter conquistado um corpo magro através de sucos deliciosos e um pouquinho só de exercícios físicos. Ou seja sacrifício zero, prazer é o importa.
O cuidado de si hoje não se encontra em um profundo Eu desconhecido, mas sim em técnicas e ferramentas que possibilitam a construção de uma subjetividade e a oportunidade de mostrar na pele, no corpo este eu que somos.
Se antes a forma corporal em si não garantia a admiração moral, hoje as filhas de Lúcia só tem orgulho da mãe pois ela conseguiu um corpo magro. Se você tem um corpo belo, nos padrões da mídia e ainda mais consegue um lugar de destaque pautando a mídia é mais do que motivo para que se sinta bem.
Que a mídia influencia e inunda o cotidiano de imagens de corpos perfeitos isso já sabemos, mas é interessante observar nesta revista em especial que faz do corpo da mulher e da estética o motivo para ganhar visibilidade, dinheiro e para estimular ainda mais a tríade de: mercado mídia e imagem, fique o mais magra possível ganhe dinheiro e seja um exemplo de sucesso! E ainda tenha seus minutos de fama
A leitora Lúcia, depois de perder seus onze quilos, diz: “Hoje, eu não desconto mais a minha ansiedade na comida. Prefiro contar com o apoio dos meus grandes amigos: um cardápio bem balanceado, cheio de sucos deliciosos, e um pouco de exercícios físicos.
As transformações ocorridas nas ultimas décadas nas praticas e nas imagens corporais , bem como nos valores ligados ao corpo tem sido cada vez mais divulgadas e glorificadas, mas quais são as implicações dessas mudanças tanto em nível politico e econômico como sociocultural e moral?
Assim como discutimos na unidade três da disciplina , a revista Sou mais Eu traz a tona um dos objetos midiáticos que pode representar o auge da sociedade somática, de uma cultura baseada no corpo e uma mudança dos valores culturais atuais, uma cultura voltada para si com uma certa indiferença ao compromisso para com o outro, aquela onde o foco está no corpo e na beleza física.
Além desta questão a revista em si permite a reflexão sobre a nova moral, da relação do sujeito com o corpo e a produção de uma nova subjetividade pautada na logica de imagem, mercado e mídia. Explicita então todo um novo regime de saber e poder na qual estamos inseridos onde a ideia de felicidade bem estar e sucesso é pautada na imagem. Toda a rede de poder se reconfigura e a forma de funcionamento se apoia agora na lógica do estímulo
Se adequar aos padrões de beleza e ser reconhecido por isso é o foco da revista. É interessante notar que não é colocado em pauta sua força de vontade, capacidade de alto controle ou algo que o valha e sim o fim é relatado como objeto, e tudo sempre feito com prazer e sem sacrifícios, seguindo então cada vez mais esta lógica do estimulo onde ser saudável, longevo e atento à boa forma física tornou-se regra cientifica e moral.

Novas práticas de purificação corporal em nome da boa forma, o truque então esta em fazer crer que obediência aos novos padrões do corpo traz vantagens, prazer e acima de tudo sucesso esforço não é mais padrão de comparação.
Novas ciências da vida inseridas em uma cultura somática e nova moral do corpo, emagreça seus quilos sem sacrifício, sem passar fome, sem cirurgia sem esforço e seja capa de revista (e ainda ganhe um dinheirinho com isso), “seja mais você” e conquiste seu sucesso na vida, mas faça isso magra, por favor!

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