segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

“Pânico na TV”: De Musa da Beleza Interior à Panicats – por Yone Benicio



O programa “Pânico na TV” é um programa sensacionalista de humor, que exibe corpos excessivamente de duas formas bem contrastante, porém ambas possuem a mesma finalidade apesar da gritante disparidade, que é o culto a beleza.
O programa possui em seu elenco um grupo de meninas denominado “Panicats”, que é formado por mulheres bonitas e magras, com corpos sarados, que aparentam saúde e “boa forma”. As Panicats geralmente aparecem com roupas minúsculas que delineiam o corpo e deixam as exuberantes curvas a mostra, como biquínis, micro saias, roupas juntas que marcam o corpo. Vide figura acima.
Em contraponto a esse estereótipo, o programa apresenta um quadro chamado “Musa da Beleza Interior”, no qual dois apresentadores andam por uma praia brasileira à procura de mulheres bem feias, geralmente gordas, cheias de banhas, com o corpo bastante deteriorado, cabelos mal cuidados são candidatas escolhidas a serem as tais ‘musas da beleza interior’. Além de terem seus corpos expostos de maneira ridicularizada, tirando sarro da cara das coitadas, já que o “Pânico” faz uma abordagem da exibição delas de forma sarcástica debochada, ainda são colocadas em situação vexatória que as deixem mais feias ou aumente o grau da ironia da cena. Como ilustrado no vídeo abaixo.
Video do quadro: Musa da beleza interior
http://www.youtube.com/watch?v=nH9qYzumuo8

O “Pânico na TV” ilustra bem o papel que a mídia tem de criar um modelo padrão de beleza, baseado na “boa forma”, ou seja, se quiser pode exibir seu corpo mas seja magro e saudável. Isso acaba afetando de certa forma, nas produções de subjetividades, já que o corpo também é uma forma de mostrar personalidade, mas ela deve atender aos modelos impostos fortemente pela sociedade e pela mídia. O homem teme ser punido, ou seja, ridicularizado ou rejeitado por ser ele mesmo. Como denuncia Émile Durkheim em sua obra As regras do método sociológico:
“A consciência pública reprime todos os atos que as ofendam, através da vigilância que exerce sobre a conduta dos cidadãos e das penas especiais que dispõem. Noutros casos, a coação é menos violenta, mas não deixa de existir. Se não me submeto às convenções do mundo, se, ao me vestir-me, não levo em conta os usos seguidos no meu país e na minha classe, o riso que provoco e o afastamento a que me submeto produzem, ainda que duma maneira mais atenuada, os mesmos efeitos de uma pena propriamente dita. Aliás, a coação não é menos por ser indireta”. (DURKHEIM, 1980; 390)
Sendo assim, o homem vive em conflito, entre ser ele mesmo e adequar-se aos modos de ser predominantes. A mídia é maior produtora de modos de ser e responsável pela estimulação do ‘cuidado de si’, bombardeando os sujeitos com corpos bonitos e atléticos. Fazendo com que o individuo passe a recorrer a academias, dietas, tratamentos de pele, salões de beleza, pílulas de emagrecimento, cirurgiões plásticos, uma infinidade de técnicas que permitam o sujeito a apresentar um corpo esbelto, saudável e que o faça aparentar jovialidade, prazer e bem-estar. Afinal, a musa da beleza interior é uma forma de mostrar a feiúra de maneira escancarada e irônica ao espectador, fazendo com que ele não queira ser motivo de deboche igual às mulheres escolhidas a participar do quadro do Pânico, incentivando a “boa forma”.
“Neste novo contexto, o aspecto corporal assume um valor fundamental: mais do que um suporte para acolher um tesouro interior que devia ser auscultado por meio de complexas práticas introspectivas, o corpo se torna um espécie de objeto de design. É preciso exibir na pele a personalidade de cada um, e essa exposição deve respeitar certos requisitos”. (SIBILIA, 2008; 111)
A sociedade em que vivemos, do século XXI, é marcada pelo imperativo da visibilidade, no qual a intimidade encontra-se escancarada nas telas da internet, da televisão, e paginas de jornais e revistas, resultando no fenômeno que chamamos de celebridades instantâneas. O anonimato deixa o homem do século XXI muito irritado, pois o ideal da visibilidade é tão forte que ele se expõe sem perceber, sem nem ter vontade de aparecer. Porém essa intimidade atende as condições impostas pela mídia. O que provoca no sujeito a ter mais vontade de cuidar de si próprio, que agora não só para ser bem aceito, mas para entrar na esfera da visibilidade.

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