segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

Caso Geisy: da disciplina ao controle - Por João Fanara

A partir do final da década de 60, Foucault sinalizou para uma mudança que estava ocorrendo em nossa relação com os nossos corpos. Passando do homem-máquina no início da modernidade ao homem-psicológico, o homem contemporâneo teve seu corpo descoberto (ele 'acordou') pelo excesso de atenção dada a ele na era disciplinar. O despertar do corpo criou uma espécie de rebelião contra o poder que o aprisionara e resultou numa reconfiguração do poder.

Engana-se quem pensa que o corpo contemporâneo, depois da revolução sexual e dos fins dos tabus, está livre de toda e qualquer moral. É fácil observarmos que a liberdade do corpo depende, atualmente, do enquadramento que este corpo tem em padrões definidos pela estética e pelas normas de saúde. Revistas trabalham incessantemente ao retocarem as imagens em softwares, retirando rugas, colocando curvas, acertando as cores etc. Ao mesmo tempo, programas de auditório levam especialistas para tratarem da obesidade e quase sempre há um tom moralista nas falas, onde o obeso, independente das suas taxas de colesterol e açúcar, são massacrados e expostos como criaturas sem controle sobre suas próprias vontades e desejos.

Para ilustrar um pouco este momento de transição entre estas morais que mencionei, trago o exemplo da aluna da Unibam, Geisy, de 20 anos, 1,70 metro, loira, olhos verdes, que foi ofendida por colegas da faculdade, por exibir curvas do seu corpo num curto vestido rosa. Poucas coisas resistiram tanto à transição da sociedade disciplinar para a sociedade do controle como as instituições de ensino. Destas, penso que as universidades tornaram-se ainda mais fiéis aos antigos métodos de formatar corpos e almas, prova disto, foi a violenta repressão moral e física que esta jovem estudante sofreu dentro e fora da sala de aula.

Hoje, a ex-estudante de turismo da Universidade Bandeirante de São Paulo, parece ter despertado o seu corpo depois de tanto alarde das mídias. Neste domingo, dia 6 de dezembro, saiu de uma cirurgia realizada na Clínica Paulista de Cirurgia Plástica, retirou cinco litros de gordura de todo o corpo, modelou cintura, fez enxerto no bumbum, aumentando-o e colocou 435 ml de silicone em cada seio.

Geisy que saiu dos olhos disciplinadores da universidade, agora entrega-se ao estimulante olhar das lentes das mídias, onde o preço a pagar pela a sua aceitação é a adequação do seu corpo ao que se define como sendo 'boa forma'.


Referências:
http://bit.ly/2R403t
http://bit.ly/4S1owx
http://bit.ly/7PYD9t

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